Como adaptar a casa para um cão com dor ortopédica
- Felipe Garofallo
- 29 de mai.
- 2 min de leitura
Quando um cão apresenta dor ortopédica, seja por displasia coxofemoral, ruptura ligamentar, osteoartrose ou pós-operatório de cirurgia ortopédica, é fundamental que o ambiente domiciliar seja adaptado para minimizar o desconforto, prevenir agravamentos e favorecer a recuperação funcional.
Como ortopedista veterinário, observo que pequenas mudanças no manejo e no ambiente do paciente fazem grande diferença na qualidade de vida e no controle da dor, tanto em casos agudos quanto crônicos.

A primeira recomendação diz respeito à limitação do esforço físico inadequado. Escadas, por exemplo, devem ser evitadas ou bloqueadas temporariamente com portões, pois exigem movimentos articulares amplos, instabilidade e sobrecarga nos membros, especialmente nos posteriores. Em residências onde o acesso ao ambiente externo envolve degraus, rampas antiderrapantes são uma solução segura e eficaz. O piso também merece atenção especial: superfícies lisas como porcelanato e madeira polida aumentam o risco de escorregões e quedas, comprometendo a estabilidade articular. A instalação de tapetes emborrachados ou passadeiras antiderrapantes é uma medida simples que proporciona maior tração e segurança na locomoção do animal.
Outro ponto essencial é a escolha do local de descanso. Cães com dor ortopédica precisam de um leito confortável, que distribua adequadamente o peso corporal e reduza os pontos de pressão. Camas ortopédicas, especialmente aquelas confeccionadas com espuma de memória (viscoelástica), são ideais para esse propósito. Além disso, o local de repouso deve estar em um ambiente tranquilo, com temperatura amena e de fácil acesso, evitando que o animal precise se esforçar para alcançá-lo. Subidas em sofás e camas devem ser desencorajadas, ou então auxiliadas por rampas, caso seja inevitável.
A altura dos potes de água e ração também influencia no bem-estar ortopédico. Em cães de médio e grande porte, recomenda-se que os comedouros estejam elevados à altura do peito, evitando a flexão excessiva das articulações dos membros anteriores e a sobrecarga cervical. Isso se torna ainda mais relevante em cães com dor nos cotovelos, ombros ou coluna cervical.
O enriquecimento ambiental deve ser adaptado à nova condição do paciente. Evita-se estimular movimentos bruscos, pulos ou corridas. Brinquedos interativos e atividades olfativas que promovem estimulação cognitiva sem exigir deslocamentos intensos são alternativas valiosas para manter o bem-estar mental sem prejudicar a recuperação ortopédica. É igualmente importante manter o cão dentro da faixa de peso ideal, já que o sobrepeso acentua a sobrecarga articular e perpetua a dor. Portanto, o manejo alimentar deve ser rigoroso, com controle de porções e, se necessário, uso de dietas específicas para controle de peso ou suporte articular.
Por fim, o acompanhamento fisioterapêutico pode orientar exercícios terapêuticos realizados em domicílio, sempre com prescrição e supervisão profissional. Estes exercícios têm como objetivo preservar a massa muscular, manter a amplitude de movimento e auxiliar na reabilitação funcional, respeitando o limite de dor do paciente.
Essas adaptações, embora simples, devem ser individualizadas de acordo com o grau de comprometimento do paciente, sua idade, condição clínica e diagnóstico ortopédico. Cuidar do ambiente é parte fundamental do tratamento e pode ser o diferencial para uma recuperação mais rápida e menos dolorosa.
Referências bibliográficas:
Millis DL, Levine D. Canine Rehabilitation and Physical Therapy. 2nd ed. Elsevier, 2014.
Johnston SA, Tobias KM. Veterinary Surgery: Small Animal. 2nd ed. Elsevier, 2017.
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